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Reportagem aborda a expectativa no setor salineiro em relação ao inverno deste ano

SALAreia Branca é um dos maiores produtores de sal marinho, do Brasil

Mário Gerson, de Areia Branca (Jornal Gazeta do Oeste – Ed. 06/02/2011)

Responsável por 95% do sal produzido em território nacional, o RN pode ter uma queda esse ano, devido ao forte inverno previsto pela Emparn. Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Extração do Sal no Rio Grande do Norte, Airton Torres, se o inverno deste ano for muito forte, como muitos estão supondo, a produção cairá para algo em torno de 4,5 milhões de toneladas. “Neste caso, a oferta será menor, porém não deverá resultar em desabastecimento do mercado interno. Em anos de inverno normal a produção de sal a granel (também chamado de sal marinho) oscila entre 5,2 e 5,5 milhões de toneladas”, salienta. “A produção de sal refinado não é afetada pelas chuvas, de modo que não se espera oscilação nos volumes que tradicionalmente vêm sendo refinados pelo setor”, complementa, salientando que, enquanto produtor, na posição FOB, o preço do fardo com 30 quilos de sal refinado, contendo 30 sacos de 1 kg cada, pode oscilar entre R$ 11,00 e R$ 12,00. Confirmando-se um forte inverno, esse preço poderá sofrer uma majoração da ordem de 10%.

Apesar das expectativas, Airton Torres acredita que ainda é cedo para uma previsão acerca da produção. “Agora que estamos bem no início de estação chuvosa, é cedo para se fazer uma previsão com elevada chance de acerto. Os números são os citados e cuja variação vai depender do nível das chuvas que cairão até maio próximo”, diz.

Gerando, segundo levantamentos no Estado, aproximadamente 15 mil empregos de forma permanente, a indústria do sal tem um forte aliado: o Porto Ilha, que embarcou, somente no ano de 2010, cerca de 1.700.000 toneladas. Isso equivale a pouco mais de 140.000 toneladas por mês.

Segundo Airton Torres, os destinos do sal produzido no Estado, pela ordem, são: mercado interno, Nigéria, Estados Unidos e alguns países da Europa.

Investimentos do Governo Federal

PORTO ILHA DE AREIA BRANCA Porto-Ilha, escoadouro da produção salineira para o mercado exterior

Em relação aos investimentos do Governo Federal, a atual presidente, Dilma Rousseff, autorizou, quando ministra da Casa Civil, a liberação de R$ 165 milhões para ampliação da estrutura para embarque, desembarque e estocagem do Porto-Ilha que, na opinião de Airton Torres, já apresentava sinais de inoperância. “O Porto-Ilha opera há mais de 40 anos ininterruptamente. Com as suas dimensões atuais tende a ficar inoperante devido ao fato de que os navios graneleiros disponíveis para o transporte do sal estão cada vez maiores. Com essa obra o porto se adéqua a receber e carregar com rapidez navios com capacidade de até 75.000 toneladas, que não existiam no passado. Esse fato permitirá um aumento dos embarques na medida em que poderá receber e carregar com rapidez navios de grande porte. A obra de ampliação vai aumentar a vida útil do Porto em, pelo menos, mais 30 anos”, frisa.

Sobre se o Porto-Ilha poderia escoar outros produtos, como grãos, por exemplo. Torres acredita que uma “ideia desse tipo não pode prosperar”. “São cargas muito diferentes. Cada uma delas exige uma forma diferente de armazenagem e não há espaço para isso. Fatalmente uma contaminaria a outra. A concepção do projeto está toda desenhada para estocar e embarcar tão somente o sal a granel. Portanto, não podemos concordar com mudanças de finalidade do Porto Ilha, que deve continuar sendo especificamente um Terminal Salineiro”, declara.

Chile é um dos principais concorrentes do RN quando o assunto é sal

Tendo o sal do Chile como um dos concorrentes diretos dentro do território nacional, Airton Torres acredita que o sal marinho brasileiro é superior. “O sal a granel in natura recebe uma concorrência direta, no mercado interno, do sal de rocha que vem do Chile. O sal marinho, para diversos usos, é sempre melhor do que o sal de rocha. Contudo, não tem havido mais considerações a respeito da qualidade do sal que vem do Chile. O sal marinho brasileiro é bastante competitivo com o sal chileno. Tanto é que o sal do Chile para poder ingressar no mercado brasileiro em condições de competir com o nosso sal, pratica dumping no frete marítimo do Chile para o Brasil”, diz Torres.

Um dos principais problemas enfrentados hoje diz respeito ao transporte terrestre. Segundo ele, estima-se que cerca de 3 milhões de toneladas de sal ensacado (refinado e moído) são escoadas por via rodoviária anualmente. Cerca de 10% desse sal é levado em containers por carretas para os portos do Ceará e ali embarcado via marítima. “A otimização pode ser alcançada através do uso mais intenso de containers embarcados via marítima”, destaca.

Além disso, as principais necessidades da área produtora em relação a investimentos do Governo do Estado e do Governo Federal dizem respeito a infraestrutura. “As principais necessidades do setor salineiro do Estado junto às autoridades estaduais e federais são: Na infraestrutura: desvio da água doce do rio Mossoró no período seco do ano, do trecho que vai de Passagem de Pedras até a sua foz, através de um canal paralelo ao rio; eficiente linha de cabotagem no Porto de Natal para escoar sal refinado por containers com fretes mais vantajosos do que os que são praticados pelas carretas, e dragagem dos estuários dos rios onde estão localizadas as salinas, permitindo assim que o acesso ao Porto das barcaças que transportam o sal a granel, para ali ser estocado, não mais dependam das marés altas para navegarem. No campo institucional, prorrogação da isenção do Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante, que expira em janeiro de 2012. Tal isenção nada mais é do que uma isonomia com o sal do Chile que tem essa isenção de forma permanente, sem data para acabar”, aponta.

Salineiros falam dos ‘tempos antigos’ na luta pela vida

SAL NOSSO Montanhas do “ouro branco” surgem meio à vegetação rasteira

Antônio José dos Santos é da região de Upanema, próximo a Areia Branca, e começou a trabalhar desde muito jovem, na agricultura. Logo depois, seguiu o destino de muitos de seu tempo: a salina.

Em meio ao branco do sal, muitas pessoas não imaginam o perigo que correm alguns trabalhadores que lidam com o produto. Hoje, com mais segurança que em outras épocas, esses mesmos trabalhadores chegavam a ter sérios problemas de visão, oriundos do contato com a brancura do produto, refletida pela luz do sol. “Eu sempre preferi trabalhar cedo. Por isso me levantava às duas da manhã. Muitos dos meus colegas de profissão iam para a salina nos horários em que o sol ‘dá’ mais em cima do sal e surge a ‘brancura’ na frente da gente”, relembra Antônio José, já aposentado, aos 70 anos.

Quanto ao dinheiro, ele frisa que ganhava por alqueire. “Mas nós, os empregados, nunca enricamos com sal. Só quem enricou com o sal foram sempre os patrões mesmo”, constata. “Hoje, o Porto Ilha acabou com o trabalho braçal de antigamente. Tudo é feito a partir de máquinas pesadas e o que existe mesmo são grandes firmas que empregam poucos funcionários”, diz, reforçando que os tempos difíceis eram “aqueles outros anos, de lida dura”, fala, apontando para o mar.

Para Antônio José, a região é rica e próspera devido à produção do sal, mas ele acrescenta que muitas famílias, hoje, vivem de outras culturas, como a agricultura de subsistência, muito praticada na região – “quando há inverno, claro” – e que ainda mantém algumas delas longe da cidade. “Mas a tendência é que esse pessoal venha para Areia Branca. Isso não é bom”, diz um dos aposentados do lugar, Sebastião Soares.

“Se não fosse o sal era a pobreza”

Edilson Queiroz, conhecido na cidade como Edilson Bonzão, destaca que “se não fosse o sal era a pobreza quem dominava a cidade portuária de Areia Branca”. Ele frisa que o sal tem sido um dos principais produtos que mantém a economia do lugar, gerando emprego para a comunidade. “É certo que esta é uma cidade onde muitas pessoas vivem de benefícios do governo, causas trabalhistas e do funcionalismo público”, complementa. “50% dos marítimos estão aposentados e, mesmo assim, devido à falta deles, ainda continuam na ativa. Só referentes à Lei de Guerra são 30 famílias que recebem o benefício”, diz.

A produção hoje

SAL II,JPG A colheita e a lavagem do produto ocorrem entre agosto e janeiro

Diferente do passado, quando a produção era feita de forma totalmente artesanal, com a utilização de carros de mão e balaios, hoje a indústria do sal utiliza tecnologia estrangeira, como equipamentos franceses – a exemplo da Norsal, uma das maiores produtoras do Estado.

A colheita e a lavagem do produto ocorrem entre agosto e janeiro, considerado período de seca na região. Colhido de forma mecânica e transportado hoje em caçambas, o sal é lavado com uma espécie de salmoura saturada e controlada, que evita a dissolução do produto e reduz o teor de impurezas. Depois desse processo, ele é centrifugado e segue em esteiras para a unidade de beneficiamento ou para estocagem em pilhas de 7 metros de altura e 400 metros de comprimento.

O refino e a moagem são as próximas etapas. O sal segue para a chamada planta de beneficiamento, onde pode ser moído ou refinado. Durante a moagem são acrescentados os aditivos.

Depois de moído, o sal é transportado por roscas (transportadores helicoidais) para secadores de leito fluidizado, sendo posteriormente peneirado e classificado. Após a classificação é levado para ser embalado, sem contato manual, e, logo depois, para ser embarcado diretamente ou estocado. (Com informações da Norsal).

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