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Estrutura contará com cercado, passarela de acesso e plataforma de observação (Foto: Projeto Cetáceos da Costa Branca)

Projeto Cetáceos : Uern constrói recinto para devolver peixes-bois-marinhos à natureza

Estrutura contará com cercado, passarela de acesso e plataforma de observação 

O Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), iniciou a construção de um Recinto de Aclimatação e Programa de Soltura e Monitoramento de Peixes-bois Marinhos no RN. O local escolhido foi a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, que inclui comunidades dos municípios de Macau e Guamaré.

Antes de serem soltos, os animais precisam passar por um período de aclimatação às condições naturais, se adaptando aos movimentos e oscilações das marés e correntes marinhas e temperatura das águas, por exemplo.

“A área apresenta características naturais fundamentais para os animais no período de aclimatação e soltura, além de possuir grande envolvimento”, informou o professor do curso de Turismo do Campus de Natal, Flávio Lima, biólogo e coordenador-geral do Projeto Cetáceos.

Instalada em uma área estuarina, a estrutura é constituída por uma passarela de acesso, uma plataforma de observação e um cercado para os animais, todos em madeira tratada e legalmente licenciada. Está localizada em um canal na Comunidade de Diogo Lopes, mediante autorizações, licenças e anuências de todos os órgãos públicos competentes, incluindo o Conselho Gestor da RDSE Ponta do Tubarão.

Logo após a conclusão da obra, prevista para ser finalizada em 90 dias, será iniciada a transferência gradual dos animais para o Recinto, adiantou a bióloga Aline Bomfim, gerente técnico operacional do PMP-BP.

“O Recinto de Aclimatação vem sendo construído com base em outros recintos já existentes em estados do Nordeste e Amazônia, respeitando as características e particularidades da região escolhida”, explicou o médico veterinário Augusto Bôaviagem, coordenador do Cras Projeto Cetáceos da Costa Branca-Uern.

O peixe-boi marinho é uma das espécies de mamíferos aquáticos com maior risco de extinção no Brasil. A região da Costa Branca no Rio Grande do Norte é um dos principais locais de encalhes de filhotes da espécie, provavelmente devido às alterações naturais dos ambientes costeiros e marinhos e às atividades humanas na área, segundo o professor Flávio Lima.

Transferência dos animais para o recinto deve acontecer ao final da obra

É comum os animais encalharem com poucos dias de vida, entre 2 a 5 dias de nascidos, sendo necessários cuidados e tratamento especializado. Para isso, os animais são resgatados e encaminhados para o Centro de Reabilitação de Fauna do Projeto Cetáceos, na cidade de Areia Branca.

Lá os animais são acompanhados por uma equipe técnica multidisciplinar e submetidos à lactação artificial por aproximadamente 02 anos à base de proteína isolada de soja e suplementos vitamínicos, minerais e aminoácidos essenciais, além de itens naturais, como capim agulha e algas marinhas.

Atualmente encontram-se em processo de reabilitação 15 peixes-bois marinhos no Centro de Reabilitação aguardando a transferência para o Recinto de Aclimatação e posterior soltura.

A aclimatação pode durar de 6 meses a um ano, a depender do comportamento dos animais e adaptação de cada um. Depois disso, o animal poderá ser solto à natureza, sendo monitorado através de equipamento de radio-telemetria e por equipe especializada.

“Caso o animal apresente algum problema ou risco à sobrevivência, é capturado para avaliação, podendo ser retornado para um novo processo de aclimatação”, explicou o biólogo Daniel Solon, Gerente Técnico Operacional do PMP-BP.

A soltura e monitoramento desses animais na natureza no RN é uma ação prevista no Plano de Ação Nacional para Conservação do Peixe-boi-marinho – PAN Peixe-boi-marinho, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA).

Conscientização

Está previsto no projeto o envolvimento das comunidades da Ponta do Tubarão, incluindo ações de extensão universitária, divulgação, sensibilização, educação ambiental, valorização do conhecimento tradicional, cultura local, cursos e treinamentos na perspectiva de contribuir com o fortalecimento dos objetivos da Reserva e desenvolvimento sustentável dos moradores de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãozinho, além de outras comunidades vizinhas.

Recinto está sendo construído na Reserva Ponta do Tubarão

Para isso a equipe do Projeto Cetáceos vem mantendo diálogos com representações de instituições locais da sociedade civil, que compõem o Conselho Gestor da RDS Estadual Ponta do Tubarão, entre elas a Comissão de Justiça e Paz (CJP), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Associação Comunitária de Comunicação e Cultura Ponta do Tubarão, Ileaô e Centro AMA-GOA de Cultura e Meio Ambiente, como também com a Colônia de Pescadores Z-41.

Poderão ser realizadas ações de educação ambiental na área, incluindo a visitação guiada na Passarela de Acesso para interpretação da biodiversidade e importância do ambiente local para a sustentabilidade das comunidades tradicionais que ali vivem e sensibilização de visitantes.

“Essas atividades, se autorizadas, terão a participação das representações de instituições locais da sociedade civil, que compõem o Conselho Gestor da RDS Estadual Ponta do Tubarão e demais instituições locais nas etapas de planejamento e execução, garantindo assim a integração das ações que já vêm sendo desenvolvidas na Reserva”, finalizou o professor Flávio Lima.

Processo

Desde 2017 o Projeto Cetáceos intensificou as ações para definição de estratégias e local para implantação do Recinto de Aclimatação e Programa de Soltura e Monitoramento de Peixes-bois marinhos no Rio Grande do Norte, e em janeiro de 2022 foram iniciadas as obras de implantação do Recinto.

A implantação do Recinto de Aclimatação em Ambiente Natural e Programa de Soltura e Monitoramento de Peixes-bois marinhos no Rio Grande do Norte é uma ação prevista no “Projeto de pesquisa com monitoramento dos encalhes de biota marinha em praias do litoral potiguar-Rio Grande do Norte (PMP-BP)”, que é uma exigência do licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama para as atividades de exploração, produção e escoamento de petróleo e gás da Petrobras na região.

O PMP-BP é executado por meio de um convênio entre a Petrobras, Uern e Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte (Funcitern).

Fotos: Projeto Cetáceos da Costa Branca

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