
A chamada grande imprensa teve dois momentos infelizes no decorrer da semana. Editorial veiculado pelo jornal “O Globo” de 24 de julho do corrente, propõe o fim da gratuidade no ensino superior público no Brasil, provocando reação imediata da Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem), entidade que congrega 45 instituições públicas de ensino superior. (Confira postagem no site).
O colunista da revista “Veja”, Cláudio de Moura Castro, também foi alvo de repúdio dos professores que classificaram de ataque à categoria os comentários expressos no texto “Professor ganha mal?” em sua coluna na conceituada publicação.
Leia a resposta de uma professora da rede municipal de ensino de Natal (RN) ao colunista da “Veja”.
Após a leitura do texto “Professor ganha mal?”, de Cláudio de Moura Castro, não poderia deixar de discutir alguns argumentos do autor para tentar desmistificar aquilo que já é consensual (os baixos salários pagos aos professores). Para tanto, o articulista alega:
1) Os salários são competitivos por hora. E quem lhe disse que os professores só trabalham durante o horário em que estão na escola? E o planejamento das aulas? E a elaboração de avaliações e sua correção? Como diz o pesquisador Marcos Bagno, em seu livro “A pesquisa na escola”, o professor pesquisador trabalha muito mais fora de sala do que dentro;
2) Aposentadoria aos 50 anos com salário integral. Se a expectativa de vida aumentou, pela lógica do Sr. Cláudio Moura Castro, deveríamos trabalhar mais. O que dizer dos atletas que se aposentam bem mais jovens? Dos jogadores de futebol? E, quanto à integralidade dos salários, consideremos que, já idosos, os aposentados gastam mais com plano de saúde e medicamentos;
3) 45 dias de repouso, licenças-prêmios, 10 faltas anuais por saúde, licença para mestrado e doutorado, candidaturas a vereador. O que dizer das férias e dos recursos recessos dos magistrados? O Estado é quem paga também valores infinitamente mais altos. Será que só eles merecem mais descanso? Só eles têm um ofício desgastante? De onde o Senhor tirou essas 10 faltas anuais por motivo de saúde? É regra? Está na lei? Estamos nos últimos dias de julho e ainda não tirei nenhum desses 10 dias. A licença para se candidatar a vereador segue o mesmo raciocínio: quem a tira? Cuidado com a generalização, se fosse meu aluno, teria aprendido que esse é um grave problema de argumentação. Ademais, não se restringe aos professores, mas a todo servidor público. Quanto à licença para doutorado e mestrado, não seria justo? Outras categorias também o fazem. E se não são garantia de um ensino melhor, o contrário também é verdadeiro. Vale salientar que, embora seja uma garantia legal, nem todos os professores nessa condição têm acesso a esse direito. Eu mesma estou cursando o mestrado sem afastamento. Muitos estados e prefeituras simplesmente negam aquilo que nos é de direito, como a citada licença-prêmio. Tenho 12 anos de serviço público e nunca gozei tal licença embora a tenha requerido;
4) Maiores salários a mestres e doutores. Para quem defende a meritocracia, é contraditório (mais um problema de argumentação) ser contra a mudança de nível salarial de acordo com o título acadêmico;
5) Professores “pendurados” em secretarias. Nisso terei de concordar com o Senhor. Defendo que houvesse concurso para a área administrativa e que os salários dos professores fossem superiores aos desses técnicos. Afinal, nosso trabalho é mais árduo.
Finalmente, o Senhor defende a meritocracia. Acho que nenhum professor se oporia desde que os critérios fossem definidos entre poder público e categoria e que nossos direitos (como muitos já citados aqui) fossem respeitados e cumpridos. E, nesse aspecto, obviamente entrariam os títulos acadêmicos que o Senhor pareceu repudiar.
* Texto de Maysa, Professora da rede municipal de Natal