Pelo menos 13 mulheres denunciaram por assédio sexual o guru João de Deus, que se tornou internacionalmente famoso por tratar celebridades e políticos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As supostas vítimas – todas com idades entre 30 e 40 anos – relataram os casos ao Programa do Bial, da TV Globo. O médium, que foi até mesmo entrevistado por Oprah Winfrey nos Estados Unidos há seis anos, costuma atender milhares de pessoas de diferentes países todos os dias no templo que mantém em Abadiânia, uma cidade de 15.000 habitantes localizada a 120 quilômetros de Brasília.
Os acontecimentos, que de acordo com as vítimas aconteceram entre 2010 e fevereiro de 2018, se somam às recentes denúncias em todo o mundo depois do movimento feminista Me Too. Há quatro meses, outro guru espiritual brasileiro, Siri Prem Baba, também foi denunciado por assediar as mulheres. Enquanto sua assessoria de imprensa negou os abusos, Prem Baba admitiu ter mantido relações sexuais com duas mulheres, mas consentidas. A assessoria de imprensa de João de Deus nega as acusações das 13 mulheres que contaram os casos na TV, sem se identificarem por medo de perseguição.
Todas elas disseram ter ido sozinhas ao templo onde o guru atendia. Primeiro, havia uma seção de tratamento coletivo. Nela, João de Deus, de 76 anos, lhes dizia –enquanto teoricamente estava sob influência de entidades espirituais– que precisavam de um tratamento individual. As supostas vítimas sempre ficavam no fim da fila para fazer esse tratamento. João de Deus então as levava para um quarto escuro com as portas fechadas. Lá, ele supostamente tocava seus seios ou lhes pedia para que tocassem seu pênis. Tudo justificado com parte de um tratamento de limpeza espiritual.
Apenas uma das supostas vítimas concordou em ser identificada. Trata-se da coreógrafa holandesa Zahira Leeneke, que disse que há quatro anos viajou para o Brasil para se tratar com ele, de quem tinha obtido informações através da Internet e de uma entrevista que concedeu à apresentadora Oprah Winfrey. A coreógrafa declarou que, na primeira sessão, depois de conhecer seus problemas, o médium a sugestionou de tal maneira que até a obrigou a se masturbar. Apesar do que aconteceu naquele primeiro encontro, Leeneke disse que voltou para outras sessões, nas quais permaneceu com outras pessoas em meditação, até que foi atendida outra vez pessoalmente pelo médium, que naquela oportunidade a levou “violentamente” a um banheiro e a estuprou. “Estou com medo até agora”, disse Leeneke.
A assessoria de imprensa do médium considerou “muito grave” a emissora ter divulgado as denúncias, que qualificou de “lamentáveis” e “fantasiosas”, e sobre as quais alegou que não foi fornecida “nenhuma prova”. Em um comunicado, questionou “por que” as supostas vítimas “não procuraram as autoridades policiais ou o Ministério Público” e acrescentou que, como isso não aconteceu, essas mulheres deveriam explicar as razões “dessa omissão”. (Com informações El País).