Fazenda da Esperança Santa Rosa, em Garanhuns, Pernambuco
Francisco Soares Neto, responsável, no presente, pela extraordinária condução da Fazenda da Esperança Santa Rosa, localizada em Garanhuns, agreste meridional pernambucano, de comum acordo com o Padre angolano José Chitumba Samalambo, sempre abre espaço para que mães e parentes próximos prestem depoimentos sobre as aflições passadas devido à triste opção dos recuperandos de terem enveredado, no passado, pelo mundo das drogas. Isso acontece logo após as missas celebradas quando das reuniões familiares mensais, as quais acontecem nos segundos sábado e domingo de cada mês.
Os depoimentos prestados pelas mães, bem como ainda por parentes próximos, são invariavelmente carregados de emoção, pois geralmente contam com pinceladas absurdamente surreias dramas dantescos que comprovam as desgraças proporcionadas pelo uso de drogas.
Ouvi choros copiosos, vi lágrimas rolarem pelos rostos sofridos, com bocas trêmulas narrando situações de desesperos crassos e hediondos vividos pelas sofridas criaturas que não sabiam mais o que fazer para livrar os filhos das garras amaldiçoadas dos piores males já inventados e comercializados por seres humanos a serviço do inimigo.
Escritor José Romero (à esquerda), na Fazenda da Esperança
Há no salão principal do prédio onde funciona a administração da Fazenda da Esperança Santa Rosa verdadeiro trabalho de arte em madeira, um Cristo Crucificado, com rosto sofrido, abandonado nas dores lascinantes da tortura provocada pela maldade e pela injustiça dos homens. Certa vez, depois que uma mãe prestou depoimento sobre a situação que o filho querido vivia no mundo das drogas e a realidade que o mesmo desfrutava com a recuperação na fantástica obra social capitaneada pela santidade de Frei Hans, Nélson, Iraci e outros enviados por Deus para buscar redimir a humanidade, resgatando irmãos sofredores do fundo do poço, tornou-se impossível segurar a emoção ao ver a pobre mulher se agarrar à escultura do Cristo crucificado, como naufrago a uma última tábua a fim de se salvar de uma catástrofe. Ela chorava sem parar, soluçava de forma incontida, quase sem forças para narrar as desgraças e os sofrimentos enfrentados para tentar salvar o filhinho da morte certa e prematura em razão do consumo adicto de drogas. Essa mãe agradecia a Deus em prantos, as lágrimas vertian dos seus olhos aos borbotões, clamando o Santo Nome do Filho do Homem, pois a força e o poder da palavra estavam convertendo seu amado filhinho em um homem-novo.
Momentos de espiritualidade, no interior da Fazenda
Os depoimentos que ouvi pareciam ter sido ensaiados, tal era a confluência do mesmo sofrimento, das mesmas situações enfrentadas devido a opção dos filhos em seguir adiante projeto de sofrimento e de dor proporcionado pela inserção em mundo escuro e tenebroso.
Como as mães sofrem, como é triste a realidade enfrentada por quem tem a infelicidade de ver seus filhos se drogarem incessantemente.
De outra vez observei o descontrole de uma genitora aos pés do Santíssimo Sacrário, pois não sabia como agradecer a Deus pela oportunidade que Ele estava dando àquele que ela carregou durante nove meses no ventre e se achava perdido no infernal mundo das drogas e se recuperava a passos largos na Fazenda da Esperança Santa Rosa. Essa mãe gritava de forma estridente, contando à representação simbólica do Deus-Vivo tudo que tinha passado. Ela bradava não saber como agradecer pelo milagre que considerava impossível de acontecer, mas que estava a sua frente, inacreditavelmente transformado em todo ser, em toda complexidade espiritual que permeia a base de atuação da obra sócio-espiritual surgida inicialmente em uma esquina de Guaratinguetá, em uma famigerada boca-de-fumo.
Recuperandos e familiares durante uma das reuniões mensais
É necessário pregar aos quatro cantos que existe uma estrutura marcada pelas Mãos de Deus intuindo recuperar àqueles que sofrem com a força avassaladora das drogas, pois não há emoção mais extraordinária do que testemunhar a alegria das mães pela recuperação daqueles que tanto amam e que são capazes de dar a vida para que sejam felizes plenamente.
Deus salve a fazenda da Esperança em toda sua dimensão e importância.
(*) José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)