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Ministro Sérgio Moro falou à comissão do Senado (Foto: Divulgação/Agência Senado)

“Há movimento claro para anular condenações e impedir investigações”, diz Moro

Ministro Sérgio Moro falou à comissão do Senado (Foto: Divulgação/Agência Senado)

Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, apontou que há movimento de um “grupo criminoso” para anular condenações, impedir investigações e atacar instituições por trás da divulgação de supostas mensagens trocadas por ele com procuradores da Lava Jato durante a operação.

“Todas as hipóteses estão abertas. Não é um grupo de pessoas despreparadas; me parece ser um grupo de pessoas que parece ter muito dinheiro”, declarou Moro, ao ser perguntado pelo senador Marcos do Val (Cidadania-ES) se suspeitava do envolvimento de estrangeiros na invasão de celulares. “Pode ser que tenha havido um estrangeiro, não necessariamente poder estrangeiro”, respondeu.

O ministro afirmou que a Polícia Federal está investigando o caso e manifestou expectativa de que o trabalho chegue nos responsáveis. Ele declarou que não interfere nem acompanha as diligências.

Moro fez um apelo para que o Congresso se concentre no presente e no futuro, e não em “falsos escândalos”. “Não tenho nenhum problema com a divulgação de material, desde que não adulterado ou veiculado como sensacionalismo, como de fato foi feito.” Ele negou que tenha sido parcial na condução dos julgamentos e disse que as decisões foram submetidas a instâncias recursais superiores.

“Qual é o conluio? Qual é a convergência? O que havia no fundo era muita divergência. Agora, também houve parcial convergência, não quer dizer que eu, absolvendo alguém, tenha conluio com advogado e que, condenado alguém, tenha conluio com o Ministério Público”, declarou, citando que, dos 291 acusados, 211 foram condenados e 63 foram absolvidos.

Moro começou sua fala inicial declarando que não tem “nada a esconder”. “A ideia é esclarecer muito em torno do sensacionalismo criado em cima dessas notícias”, afirmou. Moro foi ao Senado prestar esclarecimentos sobre o vazamento de supostas mensagens trocadas com integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato enquanto ainda era juiz. A reunião começou às 9h18. O ministro tinha 30 minutos para sua exposição inicial, mas usou pouco mais de 20 minutos em sua explanação. Durante sua fala, ele ressaltou que não pode confirmar a autenticidade pois não tem mais acesso às mensagens. Disse que seu celular foi hackeado e que não utiliza o aplicativo Telegram desde 2017.

“Eu saí do Telegram e não tenho essas mensagens para afirmar se são autênticas ou não. Tem algumas coisas que eventualmente posso ter dito. E algumas que me causam estranheza. Mas vejo que podem ser parcialmente adulteradas. Por isso, desde o início sempre nos referimos como supostas mensagens, pois não tenho como verificar a legitimidade de material”, disse.

Mesmo alegando que as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil podem ter sido alteradas, o ministro da Justiça e Segurança Pública defendeu sua atuação como juiz e afirmou que não há infrações ou desvios de conduta nas conversas com procuradores da Lava Jato. O ministro também apontou a existência um grupo criminoso criado para invalidar condenações, prejudicar investigações em curso e atacar as instituições.

“Várias pessoas lendo essas mensagens não identificaram ilícitos, ilegalidades ou qualquer desvio ético. Na tradição jurídica brasileira não é incomum que juiz converse com advogado, policia. E no caso do juiz criminal é comum que receba delegados e procuradores e converse sobre diligências que serão requeridas. Isso é absolutamente normal”, disse Moro.

Sobre o ataque a seu celular, Moro contou que a invasão está sendo apurada pela Polícia Federal e afirmou que não “nenhum receio do que tem dentro do aparelho”. Para ele, não foi ação de um hacker isolado, mas de um grupo criminoso.

“Quem faz essas operações de contra inteligência não é um adolescente com espinhas, mas um grupo estruturado. Isso é um ataque a instituições”, avaliou o ministro.

Segundo reportagem do The Intercept Brasil, o ex-juiz mantinha colaboração com procuradores durante a Operação Lava Jato, prática que seria contrária ao que manda a Constituição. Moro disse que se colocou à disposição da CCJ para esclarecimentos por conta do ‘sensacionalismo’ que está sendo feito sobre as notícias veiculadas pelo site. Moro disse que o site violou regras do jornalismo e reclamou de não ter sido ouvido antes da publicação das matérias.

O ministro saiu ainda em defesa da Lava Jato ao afirmar que a operação “foi responsável pela quebra no padrão de impunidade no Brasil”. (Com informações Estadão Conteúdo).

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