Areia Branca de muitos encantos. Fatos e causos que marcaram sua trajetória
Sabemos todos que a bossa nova foi um movimento da música popular brasileira surgido no final da década de 1950, mais precisamente em um dia de agosto de 1958, quando João Gilberto lançou o bolachão de 78 rotações com as músicas Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinícius) e Bim Bom, do próprio João Gilberto.
Sabemos, também, que Juscelino Kubitscheck (1956-1961) foi considerado o Presidente Bossa Nova, por seu estilo light de governar, e a vinculação de sua imagem aos conceitos de modernidade.
Na década de 1950, mais especificamente no período compreendido entre 30 de março de 1953 a 30 de março de 1955, Areia Branca foi administrada por um prefeito que, tal qual Juscelino viria fazer, defendeu e lutou por sua gente, impingindo a marca da modernidade e o vislumbre do futuro ao seu estilo de governo.
Carismático, de caráter forte e firmeza de propósitos, o edil areia-branquense se notabilizou por sua postura decidida e proativa, enfrentando os desafios com propostas inovadoras. Seu comportamento firme e seu arrebatamento, no entanto, foram decisivos para sua incompatibilização com seus próprios correligionários. E, tal qual Juscelino, tornou-se alvo da intolerância política.
Em meados de 1954, com o nome em alta junto à população – mantinha um eficiente serviço de limpeza pública e incrementou o calçamento das ruas com carago – foi protagonista de um acontecimento inesquecível. Lembramos que àquela época algumas ruas eram tomadas por morros de areia, trazida pelo vento.
Uma moradora da Rua da Frente tinha uma cabra – Mimosa -, criada, como sugere seu próprio nome, com mimos de animal de estimação. O animal, que era o xodó da família, e vivia trancado no quintal de casa, desapareceu misteriosamente. Com a ansiedade natural de quem perdeu um ente querido, Mimosa foi procurada em todos os recantos. Mimosa não era uma cabra qualquer. As cabras comuns usavam o tradicional balido – béee – como forma de linguagem. Mimosa praticamente falava.
A polícia foi avisada, os canoeiros foram alertados para o caso de alguém tentar levar a Mimosa para o outro lado do rio – um sequestro caprino? -, e uma equipe foi posta a serviço da operação Jason – Busca ao Velocino de Ouro.
Já passava do meio dia quando se soube que a bela representante da família dos bovídeos, subfamília caprinae, gênero capra, espécie capra aegagrus, subespécie capra aegagrus hircus – mais conhecido como Mimosa – fora presa pela temida Fiscalização Municipal.
Foi um desgosto só. Na verdade, um ultraje. A senhora dirigiu-se ao Palacete Municipal, decidida a falar com o prefeito. Não admitia aquela afronta ao seu ente querido. “Cabra também é gente”, repetia agressivamente no rol do edifício da edilidade municipal. Corrigindo: toda edilidade é municipal, pois edil se refere ao responsável pela gestão dos interesses de um município. O prefeito não se encontrava na cidade. Tinha ido a Mossoró. A senhora aprontou um escândalo. Pois que mandassem buscar o prefeito para resolver aquele imbróglio. Depois de muita discussão, ela voltou para casa aos prantos, esbravejando pelo caminho.
Já era quase noite quando uma pequena comitiva adentrou a Rua da Frente, tendo à frente um homem elegantemente vestido, de paletó e gravata, tendo ao lado um fiscal da prefeitura segurando uma cabra presa a uma corda. O homem de paletó parou em frente à casa, entregou o animal à senhora, e falou:
– Eu mandei soltar a Mimosa e vim trazê-la até aqui porque ela tem histórico de bons antecedentes. Mas, caso haja uma segunda vez, ela ficará no curral da prefeitura até a senhora pagar a multa.
O homem era Manoel Avelino Sobrinho, o Prefeito pré-Bossa Nova
· Evaldo Alves de Oliveira, areia-branquense. Médico e escritor