Luciano Oliveira - [email protected]

Fala, Memória: O enigma da pedra cor de terra

CORISCO No nordeste brasileiro, a pedra-de-raio é conhecida até hoje como pedra-de-corisco, por influência dos portugueses do século XVI

Uma pedra de arenito vermelho – Pedra de Scone -, supostamente transportada da Terra Santa no ano 906 a.C., e que teria servido de travesseiro para Jacó, era utilizada para a coroação dos reis da Escócia. O primeiro a ser coroado sentado sobre essa pedra – que se tornaria um dos mais importantes símbolos da Escócia – foi Alexandre III, aos 7 anos, em 1249. Em finais do século XIII, estando em guerra com a França, os ingleses convocaram os escoceses para ajudá-los. Os escoceses se negaram, e isso serviu de pretexto para a invasão da Escócia, sendo o rei aprisionado na Torre de Londres. Os símbolos nacionais – a coroa, o cetro, a espada e a Pedra de Scone (Pedra do Destino) foram confiscados e enviados para Londres em 1296, na tentativa de esmagar a identidade do povo escocês. Hoje, a Pedra de Scone encontra-se na Abadia de Westminster, alojada na parte inferior do Trono da Coroação, onde se sentou e foi coroada a Rainha Elizabeth II, em 1953.

Em Areia Branca, uma pedra de cor terrosa, oriunda de um sítio que ficava na  Casqueira, foi parar na bodega do meu pai, e carregava consigo um mistério. O que seria aquela pedra de forma ovalada, medindo quinze centímetros de comprimento por seis de largura? Tinha uma cor estranha, alaranjada, formato ovalado, superfície polida, quase lustrosa, de consistência duríssima. Lembrava uma pedra lunar, porém se tratava de um corisco e, com esse status e essa configuração peculiar, era admirada por quem a contemplasse.

Fora encontrada por um agricultor, no fundo de uma pequena escavação, depois de uma noite de tempestades, em que a escuridão foi cesariada por raios que nem Zeus, o deus dos deuses, seria capaz de emitir, com seus ciclopes produtores de raios.

Hoje, tentando desvendar esse enigma, procurei ajuda nos dicionários. Um deles jura ser o corisco uma faísca elétrica ou centelha que ocorre por ocasião de trovoada. Outro, que é uma faísca elétrica da atmosfera, acompanhada ou não de trovão; raio. O terceiro foi aquele que disse ser uma centelha que fende as nuvens eletrizadas, sem se ouvirem trovões.

Quando pequeno, algumas vezes escutei dos mais velhos que o corisco resultava da fusão (diziam fundição) da areia no local em que caía um raio de forte intensidade. No local formava-se uma pequena cratera, e no fundo ficava o corisco, qual pérola de açafrão fundida nas entranhas da terra.

Pedra e pedra. Na primeira, de arenito, encontrado em toda a Inglaterra, o império da força, com a humilhação personificada em um pedaço de arenito arrancado à força, cons fins de subjugação. Na segunda, um corisco, apenas a curiosidade a nos impulsionar,  na busca da confirmação do conhecimento popular, arraigado na cultura de um povo simples.

Afinal, o corisco pode se materializar em forma de uma pedra da cor da terra? Seria aquela a Pedra de Areia Branca, hoje em lugar incerto e não sabido?

Evaldo Oliveira, é areia-branquense. Médico e escritor, reside em Brasília (DF).

Print Friendly, PDF & Email

Compartilhe:

guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

publicidade