Luciano Oliveira - [email protected]

Fala, Memória: O beco do “Panema”

AREIA BRANCA, PRAIA DE UPANEMA Praia de Upanema, agradável recanto do Atlântico há 20 anos atrás

Era assim que, em tempos idos, a gente chamava aquele beco que dava acesso à praia de Upanema. E, para se chegar até lá, somente em jipe de tração nas quatro rodas, como o de seu Alfredo Rebouças, gerente da Cia. Comércio e Navegação. Salvo engano, o único de então na cidade.

A não ser assim, o negócio era enfrentar aqueles mil e duzentos metros a pé. Além de ter que romper um areal frouxo, o transeunte se deparava com uns carrapichos pretos, ditos cabeças-de-boi, que lhe infernizavam a sola dos pés. Como sofreram os jovens da Cruzada Eucarística quando faziam seus piqueniques ali.

Na época do veraneio, algumas famílias, de certo prestígio, arranjavam o caminhão da prefeitura, que as conduzia até onde iniciava o areal; a pé, os veranistas levavam alguns utensílios e mantimentos, enfrentando certa dificuldade, mas valia pelo lazer que os aguardava. De número reduzido, as casas eram de taipa, chão de barro, cobertas com palhas de coqueiro.

Foi no ano de 1953 que o prefeito Manoel Avelino deu início à construção de uma estrada para beneficiar aquele caminho. Talvez pela falta de recursos financeiros, ou por não existir material próprio, foi utilizado o lixo coletado na cidade que era colocado ao longo do beco. Uma grande peste de mosca tomou conta do local, incomodando alguns moradores nas imediações. Jerônimo Rolim, cuja casa era situada bem à beira da passagem, foi dos que mais sofreram.

Para amenizar o problema o prefeito mandou que, logo após despejar o lixo, fosse jogada areia sobre ele.

Até que, com muito custo, conseguiu terminar a obra. Convém salientar que todo o serviço foi realizado com um caminhão, pás e picaretas, de vez que não se dispunha de trator ou qualquer outro mecanismo, a não ser o braço humano.

Concluída a empreitada, se não de primeira qualidade, mas de muita serventia ao povo areia-branquense. Logo apareceram coletivos, como a “Escandalosa” de Luiz Cirilo, o “Pau de Arara”, de Antonio Bernardo, fazendo a linha até a Casa do Farol, local da chegada. A meninada agora  tinha mais um lazer além do gostoso banho na maré.

Se na ótica do ex-presidente da República Washington Luiz, “governar é construir estradas”, Manoel Avelino, com a construção daquele quilômetro e duzentos metros de estrada, facilitou chegar-se à praia mais perto de Areia Branca. Sem dúvida, um sonhado benefício pelo seu povo.

Hoje, o antigo e penoso percurso de um quinto de légua, transformou-se numa pista asfaltada, graças à ação de sucessivos prefeitos. Muitos dos que se deleitam, trafegando por ela nos seus veículos confortáveis, não sabem como sofreram os jovens da Cruzada Eucarística, tendo que enfrentar os espinhentos “cabeça de boi”, para chegarem ao agradável recanto do Atlântico.

* Francisco Rodrigues da Costa, “Chico de Neco Carteiro”, areia-branquense. Escritor

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