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Fala, Memória: A lendária “tintureira” que ainda mexe com o imaginário das pessoas

CAIS ENTERDECERFinal de tarde no Cais Tertuliano Fernandes, cenário perfeiro que mexe com o imaginário das pessoas

Uma vez e outra faço uma rápida visita à vizinha cidade de Grossos, pois é muito prazerosa a travessia feita de balsa. É nesse momento que volto ao passado e fico a imaginar um encontro com a famosa “tintureira”, espécie de tubarão azul, que povoava o imaginário das crianças e adolescentes do meu tempo, que gostavam de tomar banho no trapiche.

Com meus olhos sempre atentos fico a procurá-la em meio aos manguezais existentes às margens do velho rio Ivipanim (ou rio Apodi/Mossoró, como preferem alguns). Os manguezais se estendem desde o cais até a Salina Morro Branco. Soube por antigos pescadores que a “tintureira” tinha como rota a partir do cais da antiga empresa Hernave, passando pelo antigo Mercado do Peixe, cais da Codern, Matadouro Público e o velho trapiche de Grossos. Mesmo com a idade que tenho hoje, nunca vi um cação, espécie de tubarão pequeno, boiando na área, imagine a “tintureira”.

Quando menino, minha mãe, dona Maria Delourdes, contava para mim e meus irmãos casos sobre a tal “tintureira”. Quando na época de minha mãe ainda jovem, morava na cidade um adolescente que tinha o apelido de “Meu Leão”. Esse rapaz vendia cocada, bolo, grude, bom-bocado e outros. E quando terminava as vendas, já ao entardecer, ele gostava de tomar banho no rio Ivipanim. Era um exímio nadador entre os garotos da sua idade. O local era ali no antigo Mercado do Peixe. Depois de vários mergulhos, “Meu Leão” falou para os meninos que naquela tarde seria seu ultimo mergulho. E foi mesmo. Ele pulou nas águas do rio e não voltou mais à superfície. A garotada, assustada, chamava aos gritos pelo seu nome, em vão.

Segundo minha mãe, até os dias de hoje o frágil corpo do pequeno “Meu Leão” nunca foi encontrado. Os experientes pescadores da cidade atribuem o sumiço do aventureiro à “tintureira”. Uns arriscavam dizer que o peixe teria engolido por inteiro o garoto, ou o teria levado como presa, arrastando-o para as profundezas do mar.

Daí, o meu medo desde criança de tomar banho ali no Cais Tertuliano Fernandes. Não sei se existe por lá a lendária “tintureira”. Mas de uma coisa tenho certeza: não pretendo nem faço questão de encontrar a dita cuja.

· Paulo César de Brito, areia-branquense. Fundador do extinto 21º Grupo de Escoteiros do Mar José Pedro Filho (21º Gemar) e do bloco carnavalesco Rei da Bicharada. Pesquisador dos fatos relacionados a Areia Branca

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