Luciano Oliveira - [email protected]

Fala, Memória: a gente era feliz, sabia e aproveitava

1ª Parte

A vida é realmente muito engraçada e curiosa. Nestes dias vi um ônibus da Empresa Teodoro, tratava-se do carro nº 06 cuja placa é MXT-1028 de Areia Branca-RN – alguns podem perguntar o que há de engraçado ou de curioso nisso – e tal visão me fez relembrar um tempo em que a gente era feliz, sabia e aproveitava.

Explico-me.

Eram os idos de 2001 – Meu Deus! Como o tempo passa rápido, lá se vai uma década e parece até que tudo foi ontem. No referido ônibus, habilmente guiado pelo grande e competente George, diga-se de passagem, que esse era o único automóvel disponível, pois naquela época não havia a fartura que existe hoje; uma verdadeira frota a disposição dos que queiram e/ou precisem deslocar-se até a Capital do Oeste para estudar, para buscar uma qualificação e o seu tão sonhado lugar ao Sol.

FABIANO SILVA, PROFESSOR DE ESPANHOL IFRNProfessor Fabiano relata peripécias de uma época eternizada na memória

Naquela época, a sexta-feira era o dia mais aguardado por todos nós, não somente pela mística e por tudo que um dia como esse normalmente oportuniza, ou seja, descanso, possibilidade de ficar mais tempo com a família, reencontro com os amigos, aproximação do fim de semana com suas opções de lazer ou viagens…, mas, sobretudo, pelo paster, pela batucada (composta por uma timba, um afrouxé e um tamborim do amigo Christian Duarte), pelas inigualáveis paródias compostas por nosso colega Paulinho e, principalmente, pela farofa regada a muito refrigerante. Todos esses ingredientes juntos formavam a nossa querida e inesquecível fuzaka, sem o erre mesmo.

A seguir uma das paródias mais executadas, um verdadeiro clássico, inspirado na música Madagascar Olodum da grande Daniela Mercury.

OS VELHACOS

Por causa de vários velhacos, o pobre do Eilson ficou arrasado, ele então fica preocupado e pede socorro a Edvaldo:

– Edvaldo pague esta conta, no mês que vem a gente salda. Nessa fase negra, só me falta vender minhas calças.

Eilson então adquire poderes e paga a parte de Gonzaga, mas ele fica triste quando pensa nos quinze cobrar, acho que Onésimo sabe, que nessa cultura escolar, uns já desistiu e nem pagou o mês de março e abril, quero ver o ai, ai, ai, quando houver uma reunião, Eilson com a lista na mão dizendo assim:

– Quem tá devendo tenha compaixão!

E, êêê, vem me pagar velhaquê. E, aaa, vem me pagar, pagar (BIS)

Vem me pagar, Eilson diz por favor: Vem pagar. Eilson diz por favor: Vem me pagar. Eilson diz por favor: vem me pagar, Eilson diz por favor….

A, êêê, vem me pagar menos um. A, êêê, eu disse, eu disse, menos um vem pagar…

Vem me pagar, Eilson diz por favor: Vem pagar. Eilson diz por favor: Vem me pagar. Eilson diz por favor: vem me pagar, Eilson diz por favor….

Tem gente pensando que Eilson tá enricando com facilidade, éééé…., gente pensa que Eilson tem boa vida e vive na vaidade. Protestos, manifestações, faz velhaco para não pagar, mil desculpas ele tenta arrumar, mas se tem uma festa senha vai comprar.

Eram paródias como essa que animavam as nossas viagens para Mossoró, mais especificamente para a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) nas noites de sexta; clima de alegria, descontração e irreverência que se repetia e, sobretudo, se intensificava na volta para Areia Branca, pois ninguém mais poderia reivindicar o justo e inapelável direito de estudar para um trabalho ou prova, e no retorno para nossa querida Salinésia, como reza o adágio popular “Ninguém era de ninguém”, fazíamos até passeatas no ônibus e a viagem passava num “piscar de olhos”, certamente para corroborar outro ditado popular: “Tudo que é bom dura pouco”. A gente era feliz, sabia e aproveitava.

Conforme já mencionado, só dispúnhamos de um único “autobús” – para não me esquecer da Língua de Cervantes – e havia um sorteio mensal para ver quem tiraria a sorte grande de ir sentado durante aquele mês, porém, esse sortudo, já estava ciente que nos trinta dias subsequentes não teria direito a uma cadeira.

Vale salientar ainda que à época nós pagávamos uma mensalidade referente à contrapartida devida pela Associação Universitária Areia-branquense (AUA) para a quitação do contrato junto ao proprietário do ônibus, conforme mostra a figura abaixo. Ah, ninguém reclamava por isso.

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A esse respeito, entristece-me lembrar que há bem pouco tempo entre os vários associados da AUA que além de continuamente lamentarem pelo retorno do pagamento da taxa, não participarem das reuniões, nunca estarem satisfeitos com nada e se queixarem de tudo e de todos, houve alguns – pasmemo-nos! Ou talvez não! – capazes de tentar ludibriar essa instituição e até mesmo o Banco do Brasil, ao colocar no caixa eletrônico deste, envelopes indicando valores destinados à AUA, quando na verdade os mesmos estavam vazios.

Continua no próximo domingo.

* José Fabiano Pereira da Silva, areia-branquense, professor de Língua Espanhola do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus Ipanguaçu. ([email protected])

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