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Fala, Memória: Dona Chiquita do Carmo na concepção de quem a conheceu de perto

DONA CHIQUITA DO CARMO

chiquita-carmo_souto-sobrinho Dona Chiquita do Carmo ao lado do professor Francisco Souto Sobrinho, outro ícone areia-branquense, popularmente conhecido como Chico de Janjão ou Seu Chico (Foto: Antônio do Vale)

Francisca Amélia do Carmo Nepomuceno é o nome registrado no cartório e pronunciado na pia batismal. Professora Francisca Amélia poderia ter sido, no cotidiano, seu nome profissional. Mas o povo a quem dedicou mais de 60 anos da sua vida e que tanto a amava a chamava de Dona Chiquita do Carmo. E mesmo seus alunos assim a ela se referiam. Francisca Amélia do Carmo Nepomuceno era simplesmente Dona Chiquita do Carmo.

Dos 5 aos 10 anos de idade morei na rua Silva Jardim, bem perto da sua casa. Fui amigo das suas filhas, Gracinha e Lúcia, minha primeira escola era de sua propriedade, num quartinho no fundo da sua casa, mas foi a professora Alice Carvalho quem deu aula para a minha turma.

Os professores e as professoras do primário costumam marcar nossas vidas, e os areia-branquenses certamente terão lembranças de diferentes professores e professoras, mas arrisco dizer que não há um conterrâneo com mais de 50 anos que não tenha na sua memória os nomes de Dona Chiquita do Carmo e da professora Geralda Cruz. Por coincidentes e às vezes diferentes razões essas duas mulheres marcaram a história social, política e educacional de Areia Branca.

A forte e determinada personalidade de Dona Chiquita se fez presente em todos os aspectos da sua atuação. No meio educacional, político, religioso, social e na sua casa, onde exercia o poder matriarcal por todos reconhecido. Quem não gostava disso era Raimundo Nepomuceno, seu marido, a quem o povo se referia como Raimundo de Chiquita do Carmo. Numa coisa as matriarcas são especialmente talentosas, é na escolha de homens bons para lhes acompanhar. Raimundo Nepomuceno não podia ser diferente. Homem bom, pacato, cheio de bom humor, foi o companheiro, amante e amado que fazendo Dona Chiquita feliz prestou um grande serviço a Areia Branca. Só uma mulher plena de felicidade poderia fazer o que ela fez por todos nós.

Areia Branca chora no adeus à sua Mestra, mas suspira de felicidade por tê-la durante mais de meio século, educando gerações e marcando a vida social da salinésia.

· Carlos Alberto, areia-branquense. Físico renomado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Reside atualmente em Porto Alegre (RS). Texto extraído do blog www.areiabrancawordpress.com

 

LEMBRANÇAS DE COMADRE CHIQUITA DO CARMO

DONA CHIQUITA COM MIRANDA e famíliares

Miranda com familiares em visita a dona Chiquita do Carmo. À esquerda, Lúcia, filha da saudosa educadora

No inicio dos anos quarenta, mesmo antes de fazer a primeira comunhão (hoje primeira eucaristia), era levado por meu pai ou avô, para assisti a missa dominical. Certo domingo, durante os cânticos religiosos, uma voz se destacava das demais conhecidas, e isso fez os olhares se voltarem para onde vinha aquela voz diferente. Lembro de uma amiga de minha mãe comentando com ela, – dona Ana, hoje na igreja tinha uma moça com uma voz tão bonita que chamou a atenção de todos, diferente da voz de dona Francisca de Souza, dona Luzinha, – e foi desfilando os nomes das que compunham o coro da igreja. E completou: – dizem que mora na casa de seu Luiz Batista -.

Pouco tempo depois, encontro àquela moça magra de porte elegante, como minha professora no Conselheiro Brito Guerra. Então passei, a saber, que a mesma era de Macau, e que seus pais moravam em Mossoró, e que morava na casa de seu Luiz Batista, a quem chamava de padrinho Luiz e madrinha Mocinha. Não irei falar aqui de dona Chiquita professora, pois teria a obrigação de falar também em dona Alice de Lalá, dona Lídia, dona Francisca Marques, dona Geralda Cruz, dona Edite Belém, e outras que foram minhas professoras no Brito Guerra. Falarei, sim, de dona Chiquita, a esposa e mãe extremada que foi grande amiga de todos, e minha inesquecível comadre.

Da casa de seu Luiz Batista, saiu para casar-se com Raimundo Mariano (Raimundo Nonato Nepomuceno), vindo residir na Silva Jardim (hoje Francisco Ferreira Souto), de onde saiu para sua última morada. Meus pais tiveram o prazer de tê-la como vizinha durante alguns anos, onde se tornou minha comadre, como também é sua filha Maria das Graças. Como vizinha, construiu uma amizade sólida com minha mãe, e mesmo depois de mudarmos para a rua Cel. Liberalino, 419, todo dia 31 de dezembro, não deixava de visitá-la, para lhe dar os parabéns pelo seu aniversario. Quando em 1964 fui residir no Rio de Janeiro, e minha mãe já estava residindo há anos lá, quando eu vinha de férias para Areia Branca e a encontrava, era esta a primeira pergunta que fazia, – compadre Antônio, como vai dona Ana e as meninas? – referindo-se as minhas irmãs que lá moravam.

Quando vim residir em Fortaleza, e minha mãe em Areia Branca, ela voltou a comparecer todo dia 31 de dezembro, na casa que minha mãe morava, para parabenizá-la pelo seu aniversario.

Quando surgiu o jornal O Sal da Terra, editado em Natal por areia-branquenses e a escolheram como distribuidora, nunca deixei de receber o mesmo, pois ela os guardava com muito carinho. Sabendo que estava na cidade e ainda não tinha ido lá, recebia com certeza este recado enviado através de qualquer amigo. – diga a compadre Antônio que o jornalzinho dele está guardado -.

Em janeiro de 2010, por ocasião da vinda de minhas irmãs que residem no Rio, para reverem os parentes e amigos, ela já acometida pela doença, acertei com sua filha Lúcia uma visita a mesma, na qual foi registrada pela foto acima, em que aparece, Lucia sua filha, Luzia minha irmã mais velha, eu, Maninha, minha irmã mais nova, e minha inesquecível comadre. A ultima lembrança que guardo da mesma foi durante o programa “Justiça na Praça”, por ocasião de um casamento coletivo, onde passei algum tempo ao seu lado, pois as últimas vezes que estive em Areia Branca ia a sua residência, porém sempre em horário que não podia vê-la, mais sempre fui atendido por sua filha Lúcia.

Não lamento a partida de minha saudosa comadre, pois isto está reservado a todos nós, lamento não ter podido lhe dar o ultimo adeus. Ao tomar conhecimento da notícia, imaginei a seguinte cena que sem dúvidas aconteceu: ao chegar à porta do céu, lá encontrou além de seus familiares, a legião de amigos, entre eles seu Pedro Felipe e dona Ana, acompanhada das minhas irmãs Maria Dalva, Aldenora, Maria Antonia, Socorro e minha filha Fátima, todos a aplaudindo, e ela como se estivesse acompanhando as procissões, com o véu sobre a cabeça e o terço na mão, cantando:

No céu, no céu, no céu,
Eu hei de ver Maria,
No céu, no céu no céu,
Eu hei de vê-la um dia…

Descanse em paz, comadre Chiquita do Carmo!

· Antônio Fernando Miranda, areia-branquense. Reside atualmente em Fortaleza (CE). Texto extraído do blog www.areiabrancawordpress.com

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