Júnior Di Guerreiro, venceu a etapa local de “A Mais Bela Voz”, em 1983
O concurso de calouros “A Mais Bela Voz”, iniciativa da Rádio Rural de Mossoró com quase meio século de tradição, constitui um verdadeiro laboratório de talentos. Muitas dessas revelações seguiram carreira artística, outros adquiriram experiência e trilharam caminhos distintos. Mas uma coisa é certa: esquecer aquele momento mágico da conquista do troféu, isso nenhum candidato esquece.
Num comentário emitido no Blog a respeito de uma postagem sobre a etapa Areia Branca do concurso de calouros que acontecerá no próximo domingo, 27, o servidor público federal mais conhecido por Júnior Di Guerreiro, lembrou, saudosista, que foi “A Mais Bela Voz Areia-branquense” de 1983. “(…) Pra mim é viajar no tempo, é como se fosse hoje, o Ivipanim lotado (…), disse.
Naquele ano, Júnior Di Guerreiro interpretou a música “Kriptônia”, de Zé Ramalho, e por pouco não perdeu o título para o fotógrafo Mario Jorge, que interpretou “Você é linda”, de Caetano Veloso. “É simplesmente um tempo mágico da cultura norte-rio-grandense”, conclui o comentário.
Acompanhamos a evolução do concurso “A Mais Bela Voz” a partir do final da década de 70, quando aportamos em Areia Branca. Participamos como colaborador e promovemos algumas etapas locais do certame. Ficaram marcas de amizades consolidadas, sobraram emoções em algumas oportunidades, também tiveram passagens hirárias, figuras folclóricas, façanhas e facetas inesquecíveis.
Dentre os fatos pitorescos que ilustraram o cenário do concurso em nível local, as participações (contínuas) do irreverente “Chico Peidão” fizeram história. Todos os anos, era sagrado: o primeiro a se inscrever para o concurso era “Chico Peidão”. A música defendida por ele também era a mesma: “Índia”, de Roberto Carlos.
Quando ele, “Chico Peidão”, pisava no palco e estufava o peito com o “Índia, seus cabelos nos ombros caídos / Negros como a noite que não tem luar / Seus lábios de rosa para mim sorrindo / E a doce meiguice desse seu olhar…” a platéia ia ao delírio e o teto do Cine Miramar (lembram? Saudades…) só faltava desabar. Era a glória!
Amanda Costa, primeira vencedora do concurso em 1968
Lembro de um apresentador da Rádio Rural, que veio para conduzir uma das edições do concurso, no Cine Miramar. O locutor não conhecia o talento do nosso “Chico Peidão”. Na chamada dos candidatos ao palco, quem aparece primeiro? Ele mesmo, o inconfundível artista das multidões. Quando o dito cujo adentrou no palco e o público explodiu em aplausos, seguido do ensurdecedor coro de “já ganhou” , o apresentador fez cara de espanto e se dirigiu ao candidato, com o entusiasmo à flor da pele: “o que, que é isso, Areia Branca!?! Já temos aqui o vencedooooor??? É ele, é eleeeeeeeeeeeeeeee???”.
Nisso, passou o microfone para “Chico Peidão”, que não se fez de rogado. A banda, que já sabia de cór e salteado a eterna música que o candidato iria interpretar, mandou ver os acordes da melodia. E “Chico Peidão” tirou o pé do freio: “Índia, seus cabelos nos ombros caídos / Negros como a noite que não tem luar / Seus lábios de rosa para mim sorrindo / E a doce meiguice desse seu olhar…”.
Não tenho palavras para descrever o desapontamento do apresentador do certame, diante do fiasco da interpretação. Talvez envergonhado pelo circo que aprontou em torno do candidato, que a julgar pelo entusiasmo do público, apostou no potencial do que na sua mente seria o fenômeno do ano. A maior revelação musical de todos os tempos.
Roberto Duarte, último vencedor do concurso em Areia Branca, em 2010
Uma coisa era certa: “Chico Peidão” não cantava absolutamente nada, mas concurso de calouros em Areia Branca sem a participação dele, não tinha graça nenhuma. Eu, particularmente, era um fã declarado do artista “Chico Peidão”. Podia não ter o talento que o próprio perseguia, mas tinha coragem de subir ao palco, dar o seu recado, ao seu modo, e sair de cabeça erguida, com a certeza do dever cumprido.
Parafraseando Júnior Di Guerreiro, era simplesmente um tempo mágico. (Luciano Oliveira, Editor do Blog).