A tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a importação de produtos do Brasil pode ter um impacto devastador na pesca oceânica de atum potiguar. A avaliação é de Arimar França Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Rio Grande do Norte (Sindipesca). A notícia é do Agora RN.
Segundo ele, se a sobretaxa realmente entrar em vigor no dia 1º de agosto, como anunciou Trump, a frota de pesca de atum deve ser totalmente paralisada a partir já do próximo mês.
“Vai inviabilizar. A gente não consegue pagar essa taxa e a frota vai ter que parar”, disse Arimar. Atualmente, cerca de 75% a 80% do atum pescado no RN é exportado para os Estados Unidos, que pagam preços mais altos pelo produto em relação ao mercado interno. Com a tarifa, segundo o presidente do Sindipesca, não há margem para manter a operação: “Nossa margem não chega a 10%, 15%. Com 50% de taxa, não tem como competir”.
A pesca oceânica de atum no Estado gera cerca de 1 mil empregos diretos e 5 mil indiretos, segundo Arimar. Ele afirma que o setor deve aguardar o primeiro mês para avaliar eventuais mudanças na política americana, mas não descarta demissões caso a sobretaxa permaneça. “Vamos aguentar o primeiro mês, mas posteriormente, se não houver reversão, não tem muito o que fazer”, afirmou.
Dados da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) apontam que peixes frescos ou refrigerados foram o segundo conjunto de produtos mais exportados do RN para os Estados Unidos no 1º semestre deste ano. Foram US$ 11,5 milhões exportados, ficando atrás apenas de óleos de petróleo (US$ 24,3 milhões).
Exportações suspensas e risco de aumento de preços no mercado interno
Embora as embarcações ainda estejam em atividade em alto mar, as exportações estão sendo suspensas de forma gradual, e o setor planeja embarcar o último lote até o dia 27 deste mês. A partir do dia 30, as remessas para os Estados Unidos devem ser interrompidas.
Arimar também avalia que, ao contrário do que se imagina, a suspensão das exportações não deverá provocar queda no preço do atum no mercado interno. “Eu acho que vai aumentar o preço porque a frota vai diminuir. Vai ter menos oferta”, disse, explicando que, ao paralisar as exportações, o setor também deixará de pescar, o que reduzirá a disponibilidade do produto no mercado brasileiro.
Defesa do diálogo
Sobre o posicionamento que o governo brasileiro deveria adotar frente às tarifas de Trump, Arimar defendeu o diálogo. “Tudo tem que ter conversa, né? Tem que ter diálogo. A intransigência de ambos os lados é muito difícil”, disse. Ele evitou comentários políticos, mas alertou que a polarização prejudica o setor produtivo, que fica no meio do embate político, resultando em prejuízos e perda de empregos.
Arimar explicou que a pesca de atum é realizada com mais intensidade durante o período de lua cheia, que em agosto ocorrerá entre os dias 9 e 16. Caso a sobretaxa de 50% seja mantida, a frota de barcos do Rio Grande do Norte não deverá ir ao mar no próximo mês. “Provavelmente, a gente não vai soltar a nossa frota”, afirmou.
A expectativa do Sindipesca é de que haja uma solução diplomática que evite um colapso na atividade pesqueira do estado, que depende fortemente das exportações de atum para o mercado norte-americano.