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“Chico Boquinha”, ex-agente da Previdência Social de Areia Branca morreu em Natal depois de padecer de enfermidades

000Em destaque na foto: Tarcísio, “Chico Boquinha” (centro) e Antônio Cordeiro, de quem era grande amigo

Morreu no último dia 22, em Natal, o ex-agente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em Areia Branca, Francisco Nogueira de Melo, popularmente conhecido por “Chico Boquinha”. A notícia chegou ao Blog por meio de um post no Facebook do areia-branquense Lauro Duarte, residente na capital potiguar.

Fazia algum tempo que “Chico Boquinha” padecia de enfermidades, confinado em sua residência, na praia de Upanema. A ausência dos amigos que foram constantes na sua vida, apressou a sua morte, diziam pessoas que conviveram com ele seus derradeiros dias.

“Chico Boquinha” morreu em Natal, na casa da única filha, Magnólia Melo, em Ponta Negra, Natal. Debilitado, já não reconhecia ninguém.

“Chico Boquinha” teve sua vida ligada à Previdência Social. Gostava da política e chegou a ser candidato a deputado estadual travando uma disputa voto a voto com Manoel Avelino que foi eleito graças à legenda (UDN), em 1958.

Vítima de perseguições políticas da época, “Chico Boquinha” perdeu o cargo de Delegado (superintendente, gerente) do antigo IAPM, em 1963. Somente em 1970 ele foi reintegrado aos quadros do órgão, quando a sigla passou a ser INPS, hoje INSS.

Em abril de 2009 o blog Era Uma Vez em Areia Branca (www. areiabranca.wordpress.com) publicou uma crônica de Othon Souza intitulada “Francisco Nogueira de Melo, um sábio erudito e inesquecível orador”. Othon, filho do prático Zé Antônio e de ”Belezinha”, nascido em Natal, teve sua gênese em Areia Branca a partir do final da década de 60, quando para cá se dirigia nas férias escolares. Apesar de não ter sido essa a intenção de Othon, aqui o texto se encaixa como uma homenagem ao saudoso “Chico Boquinha”. Leia.

Francisco Nogueira de Melo, um sábio erudito e inesquecível orador

Othon Souza

000 ESSADos Franciscos, o mais importante pra mim, sem sombras de dúvidas, foi o Francisco Nogueira de Melo. Para uns, era o Sr. Nogueira, para outros, o Sr. Francisco, pra mim e para a maioria de Areia Branca, é eternamente amado, chamado e conhecido como Chico Boquinha.
Papai, como todo bom nordestino da época (e da maioria dos pais atuais), queria muito ter um filho primogênito. Foi frustrado pela providência divina. Quando nasci, ele não se conteve de tamanha alegria, relatando ao seu grande amigo, Chico  Boquinha, o quanto era bom ser pai de uma criança do sexo masculino.

Chico com toda criatividade que lhe é peculiar, tratou logo de denominar-me “Menino Bom”!
Cresci escutando aquele apelido, deveras, bastante sugestivo. Afinal, nunca dei trabalho algum, como a maioria das crianças da minha geração, portanto, não via desmerecimento nem nenhuma gozação, muito pelo contrário, foi um elogio e uma honra chamar-me de “Menino Bom”!
Muito pequeno, acompanhava meus pais nas visitas frequentes que fazia ao casal Chico/Deil, os mais alegres que conheci na minha tenra infância. Eles residiam lá na Rua Apodi, no trecho compreendido entre o Templo da Santa Terezinha e próximo à Escola Doméstica de Natal.
Era um tempo de muita alegria e diversão inigualável. Lá na residência deles se perdia toda tristeza ou amargura de espírito, pois o casal além de excelentes anfitriões, elevava o moral, a espontaneidade, deixando todos livres de quaisquer preocupações.

Lá também tinha uma bela menina, a Magnólia, filha única do casal, um cachorro muito bonito, hiper-paparicado pela Sra. Deil (Maria Adeil) e a amável, sábia vovó, Joana Soares de Melo (carinhosamente chamada de Sra. Nanola).

O Sr. Chico tinha uma voz muito grave e bonita, lembrava esses cantores barítonos de ópera. Além disso ele demonstrava ser muito culto e inteligente. Falava palavras incompreensíveis para meu paupérrimo vocabulário. Discorria variados assuntos comuns e díspares, tanto atuais como antigos. Transmitia segurança, propriedade, conhecimento e peculiaridades de um filósofo, sábio erudito.

Antes de eu nascer, o Sr. Chico era tão boa pessoa, popular, fantástico com as palavras e um imenso orador, que compôs a chapa de Deputado Estadual, com o seu conterrâneo Manoel Avelino. Ambos disputaram voto a voto, sendo eleito o Manoel Avelino devido à legenda (UDN), em 1958. Regras do TRE.

Outro fato marcante que entrou para a história, foi quando da apresentação da famosa cantora Angela Maria, no Cine São Raimundo.

No compasso da música: Rio é amor, (samba de Bruno Marnet) famosa, bem ritmada, apropriada para dançar; Angela fez sinal à Chico, convidando-o à ser seu par. Chico como cavalheiro que sempre foi, não se fez de rogado; imediatamente bailou como um exímio dançarino. Deu vários volteios e rodopios, encantando à platéia.

A partir dalí serviu de gozação à Dedeca de Quinca Simeão. Tanto Chico como os seus amigos, repetiam exaustivamente que quem era o melhor dançarino de Areia Branca era o Chico Boquinha e não o Dedeca.

Anos depois, devido a perseguições políticas da época, perdeu o seu emprego de Delegado (superintendente, gerente) do antigo IAPM, em 1963. Foi somente reintegrado aos quadros em 1970, quando a sigla passou a ser INPS.

000 ESSADepois de anos, ele passou a residir em Areia Branca. Sempre era um prazer vê-lo, quando invariavelmente, os amigos da sua geração insistiam em convidá-lo a discursar sobre temas os mais variados, no intuito de ouvir palavras inefáveis. Saboreávamos sons de um grande erudito e inesquecível orador. Ficávamos tão emocionados com o que ouvíamos, que, na maioria das vezes, recorríamos às lágrimas como último refúgio, antes dos aplausos uníssonos da delirante platéia. Ele tinha o domínio total da situação. Havia momentos que ele alteava o volume da voz no momento adequado; em outros, ele baixava a voz como se sussurrasse. Prendia a atenção e os olhares dos presentes. Era um verdadeiro show de oratória.

Visitei-o quando ele exerceu com maestria o cargo máximo no INSS, lá onde foi a antiga Quadra de Esportes Maria Duarte. Constatei que mesmo admirado e amado por todos, o cargo nunca lhe subiu à cabeça. Tratava a todos com o devido respeito e considerações devidas. Continuou sempre elegante, simples, humilde e culto.

Lembro-me como era bom visitá-lo na sua residência na praia de Upanema. Ele foi um dos primeiros moradores ali, na época da aparição dos loteamentos. Sempre foi um homem de visão alargada, e já deslumbrava o crescimento naquelas plagas, quando muitos teimavam erroneamente com pensamentos contrários.

Agradeço a Deus por compartilhar da sua amizade sempre sincera e eterna.

Sr. Francisco Nogueira de Melo, um sábio erudito e imenso orador!

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