Por Karenine Fernandes, de Mossoró
É profundamente doloroso e angustiante ver a vida de alguém como Christian Noronha, que conheci desde a infância e vi crescer, ser brutalmente tirada pela violência de um morador de rua. Fui cliente da loja Sport por muitos anos e tive o privilégio de conhecer Christian, uma pessoa cheia de vida, energia e alegria. Infelizmente, ele foi vítima de um ato cruel dentro de sua própria loja, agredido e morto por um morador de rua, em um local onde seu pai, Aguinaldo Noronha, uma pessoa admirável, dedicou décadas de trabalho e amor. A cena que vemos hoje é um reflexo chocante de uma realidade que precisa ser urgentemente enfrentada.
Neste momento de imensa dor e indignação, expresso meus mais profundos sentimentos de pesar à família de Christian. Aos seus pais, Aguinaldo Noronha e Maria Noronha, à sua esposa, Daniele Ferreira, e aos seus filhos, incluindo um de apenas 1 ano, minhas orações e minha solidariedade. Que vocês se sintam abraçados pelo amor de todos que tiveram o privilégio de conhecer e conviver com Christian. Que o amor e a solidariedade de todos ao redor os fortaleçam nesse momento tão difícil. Não posso sequer imaginar a dor, mas saibam que estão em nossos corações e que estão sendo amparados por todos que os rodeiam.
Chegou o momento de não mais nos calarmos diante da situação alarmante em nossa cidade: a crescente presença de moradores de rua e o uso desenfreado de drogas. Trabalho com a recuperação dessas pessoas há mais de 10 anos e acompanho de perto a evolução desse problema. Já deveríamos ter cobrado e agido de maneira efetiva para evitar tragédias como essa. A sociedade civil, o poder público e as entidades religiosas precisam se unir para buscar soluções práticas e duradouras.
Não podemos mais continuar com soluções superficiais, como dar esmolas ou medicamentos. O problema é complexo e exige um plano de ação estruturado. É necessário ouvir aqueles que realmente trabalham com resultados concretos nesse campo. As casas de recuperação em nossa cidade, por exemplo, carecem de projetos sérios, e muitos profissionais de saúde mental não estão devidamente preparados para lidar com os aspectos do adoecimento por dependência química e a degradação social.
Existem estudos e experiências comprovadas que podem nos guiar para um caminho mais eficaz. É triste ver a cidade onde nasci e vivi minha infância e adolescência, que antes era um lugar seguro e próspero, agora sendo marcada pela degradação. A Rua Jerônimo Rosado, que antes simbolizava prosperidade, agora sofre com a marginalização. A Praça do Seresteiro, que deveria ser um ponto turístico, se tornou um centro de tráfico e consumo de drogas.
O aumento da dependência química e da marginalidade em nossa cidade é algo que precisamos encarar com seriedade.
É necessário repensar e agir. Todos os cidadãos precisam ser ouvidos e incluídos nesse processo. Como profissional no CAPS AD III, sei que cada paciente que atendo e consigo ajudar na recuperação é uma oportunidade para ele, para sua família e para a sociedade como um todo. Somente com união e ação concreta conseguiremos mudar essa realidade e devolver a dignidade a todos os envolvidos.
Mossoró chora e sente, mas Mossoró também precisa reagir a esse crime. Não podemos permitir que mais vidas como a de Christian sejam perdidas para as drogas, a delinquência ou pela omissão de cada um de nós. Devemos levantar um grito de mudança diante da situação dos moradores em situação de rua e da dependência química em nossa cidade.
Figura de destaque junto aos diversos segmentos no Rio Grande do Norte, a partir de Mossoró, Karenine Fernandes se define como colunista, radialista, assistente social, mãe, empresária, servidora pública, universitária. Há mais de uma década se dedica ao trabalho de recuperação de dependentes químicos.