Pertenci a uma categoria de crianças que estudavam, brincavam, ajudavam em casa e ainda trabalhavam. Fui um menor trabalhador, hoje termo quase pejorativo, sendo criador e criatura abominados pela generalização patrocinada pelos engravatados dos escritórios de alta tecnologia, que não compreendem a necessidade dos pobres.
Dona Julinha, esposa de Antonio Calazans, foi à minha casa, na Rua da Frente, e informou a mamãe que um médico amigo da família estava precisando de um menor para trabalhar em seu consultório. Corria o ano de 1957, eu estudante do Grupo Escolar Conselheiro Brito Guerra.
Logo o menino da Rua da Frente estaria prestando seus precários serviços no consultório do Dr. Wilon Cabral (foto recente), que ficava na Rua das Almas, ali na esquina do Beco da Galinha Morta. Era um prédio de dois andares, e o consultório ficava no térreo.
Dr. Wilon era um jovem elegante, educado, e gostava de usar óculos escuros à Marlon Brando, com seu charme a levantar suspiros entre as moçoilas da cidade. Acho que trabalhava no SESI, ali na Rua do Meio, junto com Dr. Vicente, famoso dentista em cujo gabinete, na sequência, eu iria trabalhar.
Anos depois, já exercendo a Medicina, encontrei-me com o Dr. Wilon, então um homem maduro, de rosto sorridente. Houve um forte abraço, e a surpresa. O primeiro patrão de minha história ficou maravilhado em saber que eu era seu colega de profissão.
Não mais o vi. Em 2001, quando do lançamento do meu primeiro livro em Areia Branca, reencontrei-o animado e forte, e rimos juntos com as histórias vividas em nossos consultórios, trocadas entre nós em um recanto.
No dia 15 de julho, a partir das 10h30, minha história pessoal ficou mais pobre.
No Hospital Wilson Rosado, em Mossoró, a pessoa que me deu a oportunidade do primeiro emprego disse “até logo” e se foi.
Um abraço à família.
( *) Evaldo Alves de Oliveira, areia-branquense. Médico e escritor.
