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Fala, Memória: Da Padaria do Seu Lalá à La Boulangerie

AREIA BRANCA ANTIGAMENTE Conhecido por toda Areia Branca e redondezas por Seu Lalá da Padaria, na verdade chamava-se Laureano. Baixa estatura, magro, óculos de grau, coração de menino. Assim era seu Lalá.

Acho que sua padaria não tinha nome – ou tinha: Padaria de Seu Lalá -, e ficava na Rua da Frente, uma casa depois da minha, na direção da igreja, apertada entre a loja de tecidos de Jales e a loja de seu Quincó. Homem íntegro, de uma honestidade a toda prova. E todos queriam o pão de seu Lalá. Lourdinha, sua filha, também nos recebia muito bem. Não lembro se o pão francês era gostoso.

Os pães eram assados no imenso forno a lenha, que ficava no fundo do prédio, e muitas vezes ficávamos ali, deliciando-nos com algumas gostosuras que os padeiros colocavam no final da fornalha, para uso do pessoal da casa.

Os meninos da Rua da Frente juntavam dinheiro para comprar bolacha. Mas tinha que ser na padaria de seu Lalá. Por quê? Primeiro, porque ele tinha cara de avô, mesmo que naquela época nem tivesse idade para tal. Segundo, porque para os meninos seu Lalá não pesava as bolachas. A gente pedia quinhentos réis de bolacha e ele punha um punhado em um saco. E pronto. Não precisava pesar. A gente escolhia pelo balcão, em formato de fiteiro, onde ficavam expostas todas as iguarias da casa.

Hoje, no contraponto da história, frequento a Boulangerie em Brasília. Padaria moderna, com decoração a caráter, ambiente pequeno. Aqui a gente encontra quase tudo de uma boa panificadora francesa. Tem fougasse, quiche de todos os sabores, éclair, tartelette de várias frutas, tortas, brioches, brownie, cannellés, financier, galette bretonne, madeleine, rocher, baguetes, boule, fougasse, além de inúmeros tipos de pães – pain ou céréales, pain aux olives, pain complet, pain de campagne e muitas variedades de croissant. Também tem excelente pão francês.

Mas aqui não tem bolacha – redonda, quadrada, grande, pequena, daquelas que estalavam no dente -, pão doce, pão carteira, pão com cobertura de coco ralado, nem pão de seda. Também não tem pão em formato de animais.

Na padaria de seu Lalá tinha.

· Evaldo Alves de Oliveira, areia-branquense. Médico e escritor (Extraído do www.areiabranca.wordpress.com)

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