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Anne Marjorie, idealizadora do Movimento, é é terapeuta, psicoeducadora, especialista em violência doméstica (Foto: Divulgação)

Em Natal, Movimento Esperançar socorre crianças e mulheres vítimas de violência e abuso sexual

A comunicadora Anne Marjorie, terapeuta e psicoeducadora, é a idealizadora do Movimento (Foto: Divulgação)

No mês de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, alertar população sobre realidade que acomete centenas de lares é uma forma de tratar o problema.

Todos os anos, 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil e há dados que sugerem que somente 7,5% dos casos cheguem a ser denunciados às autoridades, ou seja, estes números podem ser bem maiores. De acordo com estatística do movimento Maio Laranja, a cada hora 3 crianças são abusadas no Brasil. Cerca de 51% tem entre 1 a 5 anos de idade. A maior parte dos casos de abuso infantil acontece dentro de casa. 90% das ocorrências contra crianças de adolescentes transcorrem no local de residência e cerca de 30% são praticadas pelos próprios pais.

Em Natal e no Rio Grande do Norte a realidade não é diferente. O Movimento Esperançar, criado em 2016, vem atuando na assistência a uma parcela dessas crianças, muitas vezes filhos e filhas de mulheres vítimas de violência doméstica que se encorajam a pedir ajuda e, nesses atendimentos, os crimes contra essas crianças são descobertos.

“Para a prevenção é crucial o diálogo, precisamos trazer as escolas, igrejas, famílias, todas as estruturas da sociedade. O silêncio está matando as crianças”, disse a idealizadora do Esperançar, a comunicadora Anne Marjorie, que há 6 anos tem como missão ajudar mulheres vítimas de violência por conhecer de perto essa realidade após viver um relacionamento abusivo e, ao conseguir se libertar, decidiu ser voz do assunto que ainda sofre resistência na sociedade.

Anne Marjorie é terapeuta, psicoeducadora, especialista em violência doméstica, palestrante e, em seus estudos, ver diariamente a dificuldade em se debater sobre o abuso sexual infantil por envolver pessoas da família ou próximas. E, com isso, as crianças continuam sendo abusadas em silêncio em todas as classes sociais.

No Maio Laranja, em referência a campanha Faça Bonito – Proteja nossas crianças e adolescentes, que tem como objetivo mostrar à sociedade que a ajuda e o amparo são um compromisso coletivo, foi criado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que ocorre em 18 de maio, um apelo para que a população infanto-juvenil tenha uma vida plena e com garantia do direito ao desenvolvimento sexual saudável, sem violência.

“Não podemos nos calar. Como as crianças podem denunciar, pedir ajuda, se os adultos não conseguem conversar sobre isso? Como elas podem ser sentir seguras se não são ouvidas, se a infância não é respeitada?”, reflete a idealizadora do movimento que já atendeu mais de mil mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil, e também brasileiras que moram fora do país. “A internet aproxima ao utilizar # violência contra mulher”. A mesma internet também contribui para disseminar a indústria da pornografia altamente potente na construção dos abusos. “As músicas erotizadas e redes sociais que estimulam danças sensuais mexem nas questões psíquicas das crianças e, a partir daí, começam os abusos”, explicou.

Anne Marjorie está concluindo graduação em psicologia e, desde os 15 anos, trabalha como comunicadora, já atuou em rádio e televisão, e está utilizando sua habilidade em se expressar para chamar a atenção das pessoas em sua rede social, com cerca de 23 mil seguidores, sobre os casos de violência e abusos que podem acontecer a qualquer momento, em qualquer casa com qualquer mulher ou criança. “Como sobrevivente participo de palestras em instituições jurídicas e públicas e trago a realidade dos órgãos públicos que fazem esse papel de direito. O caminho que a mulher percorre, eu já percorri. Como sou terapeuta com formação em trauma decidi ajudar focando na essência e não ficar na superficialidade do ser humano”, disse.

Movimento Esperançar

“Uma mulher que acha que está em violência doméstica, provavelmente está, se tem dúvidas, normalmente a culpa e o machismo fazem com que ignore os sinais, então surgiu o esperançar que significa – enquanto eu aguardo a ajuda vir, estou fazendo alguma coisa para que essa libertação aconteça”, explicou Anne Marjorie que entre as dicas que passa diariamente as mulheres orienta a fazer prints das ameaças e enviar a mensagem por e-mail para um amiga, uma vez que o agressor muitas vezes quebra ou esconde o celular da vítima. “A violência acontece de maneira sutil e vai minando a mulher. Como passei também pela violência patrimonial, perdi tudo, vivi por todos os processos, busquei todos os serviços, defensoria pública, assistência jurídica e psicológica em faculdades, hoje sei como ajudar trabalhando aliada ao Ministério Público e Conselho Tutelar e conto com uma rede de profissionais que oferecem apoio jurídico, psicológico e assistencial além de abrigo as mulheres e suas crianças até que possam voltar em segurança para suas casas”, informou Anne.

“O que eu pretendo com o Movimento Esperançar é acolher o máximo de mulheres possível. Que elas tenham acesso as informações. Acolher sempre, julgar jamais. Como morri emocionalmente, psiquicamente, espiritualmente ao sofrer todos os tipos de violência, como sexual, patrimonial, psicológica, física, renasci e quero que outras mulheres entendam que existe vida após a violência doméstica, renascemos com uma força sobrenatural que nos faz ajudar outras mulheres a sobreviverem também”, finaliza a idealizadora do Movimento Esperançar.

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