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Graciana Gilmara: vivendo intensamento cada instante

Estudante areia-branquense relata os 19 anos que mudaram sua vida depois de diagnosticada com câncer

Graciana Gilmara: vivendo intensamento cada instante

A postagem a seguir é o testemunho de quem “morreu” e “ressuscitou” mais de uma vez. É um relato doloroso e ao mesmo tempo um exemplo de força e coragem de quem há 19 anos luta contra o câncer de pâncreas, um dos tipos mais graves de câncer.

Natural de Areia Branca (RN), Graciana Gilmara Lopes Nogueira tem hoje 31 anos, solteira, cursa o 6º período do curso de Gestão Ambiental no Instituto Federal de Educação do RN (IFRN), em Mossoró (RN).

Aos 12 anos, ela foi diagnosticada com câncer de pâncreas, contra o qual luta até hoje. Em seu depoimento, Graciana fala da sua luta pela sobrevivência, vivendo intensamente cada instante como se fosse o último, a morte encarada de frente, dos anjos que Deus colocou em seu caminho. Ela fala de dor, mas também de sonhos, esperança. E até aconselha aqueles que estão na mesma situação que ela e pensa em desistir… “viva a vida. Viva tudo que você não viveu e quer viver. E faça disso a sua cura (viver)”.

“A historia do meu câncer – Graciana Gilmara

Dia 28 de fevereiro de 2017 fez exatamente 19 anos que eu fui diagnosticada com câncer de pâncreas. Exatamente em 1998 depois do carnaval, acredito que o ultimo no cais de Areia Branca. Com 12 anos vi a minha vida virar de cabeça para baixo, várias vezes me perguntei por que eu? Mocinha católica, cristã, vivia na igreja, ainda na adolescência tinha acabado de descobrir meu primeiro beijo… E eu me perguntava: por que eu, Deus ?

Não foi fácil dar uma de adulta e aguentar a situação. No momento em que me encontrei na mesa de cirurgia adormeci com o efeito da anestesia e pedi a Deus que não me levasse e durante a cirurgia tive complicações, exames errados fizeram com quem o médico, Dr. Martins, achasse que estava operando uma paciente com problemas de vesícula e para sua surpresa era um tumor na cabeça do pâncreas maior que uma laranja!

E agora, o que fazer com esse abacaxi nas mãos? Minha mãe na sala de espera angustiada com a demora de uma cirurgia que duraria duas horas sem saber o que lá dentro era gerado. Um dilema: fechar e não fazer nada, mexer e correr o risco da paciente morrer? “O que fazer?”, pensou o medico. Não sei se foi Deus que clareou a mente dele ou a sua própria experiência e inteligência, mas ele optou por não retirar o tumor já tão enraizado. Ele, o médico, pensou e decidiu secar o câncer como quem seca uma bola pelo pito, ao mesmo tempo trabalhando para impedir que o mesmo se alastrasse, atingindo outros órgãos. Ele me deu tempo, costurou fígado, rins e o estômago em volta do tumor, criando assim, uma barreira. Com isso, o câncer não se espalhou, porém também não morreu. Passou a crescer para cima, com um bolo.

Nesse processo a cirurgia durou quase cinco horas, porque durante o arriscado movimento de salvação eu tive hemorragia e parada cardíaca na mesa de cirurgia. O corre corre para salvar uma pré-adolescente de 12 anos foi grande, bolsas de sangue, adrenalina e eu estava de volta e minha mãe, coitada, sem saber o que aconteceu. Sequer sabia que a filha tinha morrido e ressuscitado.

Passados dois meses da cirurgia, fui encaminhada para o tratamento quimioterápico em Natal, sabendo eu que só tinha seis meses de vida. Conheci mais um anjo, Dr. Henrique, que até hoje tem me mantido viva. Ele e sua equipe cuidaram e ainda cuidam de mim. Médico dedicado com sua paciente de câncer raro e que ate então não tem cura, mas o mesmo descobriu um medicamento no EUA que podia diminuir meu câncer e estabiliza-lo, Faço uso de um medicamento chamado de alto custo, já aprovado pela ANVISA e comercializado no Brasil, porém mais caro no laboratório do que mesmo quando adquirido junto aos fornecedores importados. Tive que recorrer ao Judiciário para ganhar o direito de usa-lo como tratamento. O detalhe é que fui uma cobaia para o uso do mesmo, que com os bons resultados já é usado por outras pessoas no Estado, porém algumas não tiveram tanta sorte ao usa-lo ou o medicamento chegou tarde demais.

O medicamento chamasse SANDOSTATIN LAR 20MG e NEXAVAR 200MG. O meu câncer é neoplásica maligna (Tumor neuroendócrino de pâncreas), sob o CID-10 – C25. Quem me conhece sabe que eu sou farrista e que isso muitas vezes me levou a “morte” e mais uma vez à “ressurreição”. Perdi a conta de quantas hemorragias já tive, de quantas paradas cardíacas e respiratórias, de quantas vezes as pessoas falavam que eu não voltaria.

O tempo passou, peguei uma pneumonia e isso fez com que eu tivesse metástase no pulmão. Além de me preocupar com um câncer, agora eram dois! Ainda me perguntava: por que eu, Deus? E a resposta sempre vinha com vitórias, apesar das minhas danações, artes, mal-ouvida…

Apesar de tudo, só tenho a agradecer a Deus por me dá as respostas de um jeito torto, afinal “Ele “escreve certo por vias tortas”. Mas aceitáveis e sempre me guiando e estando ao meu lado em forma de MÃE, porque se ela não é deus, é um anjo do Senhor, com uma missão que eu não sei qual é. Nem a minha nem a dela de estar comigo nesses 19 anos.

Pois é, Deus, agradeço pelos anjos que colocastes em minha vida: Dr. Martins, Dr. Henrique, Maria das Graças Lopes (minha mãe, natural de Areia Branca, 63 anos, casada, 33 anos como professora). Obrigado e com fé que ainda ficarei aqui por mais 19 anos, realizando meus sonhos, objetivos, sorrindo, sendo feliz!

O conselho que dou para quem está na mesma situação que eu e pensa em desistir… “viva a vida. Viva tudo que você não viveu e quer viver. E faça disso a sua cura (viver)”.

Fotos: Arquivo pessoal 

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